Sandra Regina dos Santos Galvão
Puja é essencialmente um ritual de oferenda que simboliza a vida. Representa o agradecimento à Consciência Divina, ao que entendemos por Deus e o reconhecimento de que absolutamente tudo o que recebemos é considerado como um presente, uma dádiva. No Hinduísmo o Puja é a forma mais popular da adoração divina.
Do significado
A palavra “puja” possui vários significados. Podemos considerar que a silaba “Pa” como “parayana” ou aquele que é devoto, que repete as escrituras sagradas em completa concentração e “ja” = “japa” ou o recitação mental contínuo dos nomes de Deus. De acordo com esta interpretação “puja” é um tipo da adoração em que o devoto pratica e o japa ou recitação. Outro significado de puja considerar “pu “ como “ o purusha” e “ ja “ como “janma “, o que desperta ou despertar. Significa que no ritual o purusha desperta e o indivíduo adquire uma nova consciência.
Os Hindus executam o Pujas de várias maneiras. O mais comum envolve uma seqüência de rituais em que, durante a cerimônia, a primeira etapa envolve o invocação da divindade, geralmente com entoação dos mantras ou de rezas simples. Uma vez que se acredita que a divindade chegou, é oferecido então um assento com máximo respeito. A água lhe é oferecida como oferecemos a um convidado que venha em nossa casa após uma viagem longa. Seus pés são lavados com água do cerimonial. Uma vez confortávelmente instalado em seu assento elevado, é seguido das seguintes oferendas:
Kumbha - Purna ou kalasa - Purna (a embarcação sagrada):
Simboliza à deusa da mãe ou Lakshmi. O recipiente de metal representa a terra, as flores representam a ornamentação, o arroz representa a riqueza material ou os poderes do Deus ou de ambos e o coco representam a Consciência Divina
Pushpam : é o oferecimento de flores que representa o que de bom floresceu em nós. Representa o elemento água porque as flores (especial o lotus) crescem fora da água.
Phalam : É o oferecimento de frutas como um símbolo auto sacrifício, auto-entrega e rendição.
Gandham : Representa os desejos (vasanas) que o ser humano tem para as várias coisas na vida. Gandham é uma pasta feita de sândalo oferecida a fim tornarem-se livres do ciclo dos desejos e dos nascimentos e das mortes.
Dhupam (incenso): a mente cheia de todos os pensamentos e ignorante é um obstáculo no trajeto ao autoconhecimento. Como uma nuvem, não podemos ver a luz ou a iluminação em nossa consciência. Dhupam é também a ilusão que nos mantém acorrentados a este mundo. Aos oferecer o dhupam oferece-se simbolicamente a ilusão. Representa o elemento ar ou o corpo energético em nós.
Deepam ( chama da vela): É a luz em nós, a alma que existe em nós e que oferecemos como o reconhecimento da rendição e devoção. Está associado ao elemento do eter que existe em nós como Purusha.
Naivedyam (alimento): Simboliza a ignorância (avidya) que é oferecido. O alimento permanece simbolicamente como a terra e no seres humanos como o corpo físico denso. Assim pode significa também o corpo e a mente (que estão para a ignorância e a consciência) que é colocado para a transformação. Quando abençoado transforma-se o pilar do conhecimento.
Kurkum e turmeric : O pó vermelho de kurkum é para as emoções ou a sabedoria interna. O pó do turmeric é para a purificação interna e o despojar do orgulho e egoísmo internos.
Prasad : Quando o hindu oferece a ignorância em troca do conhecimento e luz. A palavra “prasad” é uma combinação de duas palavras, “pra” + “sad“. É o alimento que é oferecido e representa simbolicamente o corpo denso em que por fim respira a luz nova da vida que faz o divino. Ao compartilharmos do prasad com o outro, compartilhamos, simbolicamente, o conhecimento que ganhamos.
Histórico
Diz-se que o Puja na forma atual não era praticado durante o período de Védico. Naquela época, a maneira de adorar os deuses envolvia a invocação de várias divindades com recitação de mantras e oferendas. O deus Agni do fogo era a divindade central na maioria dos rituais, como o mensageiro divino entre deuses e homens.
Não se sabe ao certos que métodos da adoração foram seguidos pelos povos da civilização do vale de Indus, anteriores aos arianos. A evidência disponível sugere que, embora fossem organizados em suas sociedade e comunidades, seguiram algumas formas de ritos elaborados e cerimoniais sacrificiais que envolviam principalmente a água.
Algumas formas de Puja eram realizadas no yoga durante o período pré-védico. Alguns teóricos afirmam que o Puja foi trazido à Índia por estrangeiros invasores ou por caravanas de mercadores, durante a era pré-cristã. A idéia de oferecer flores e incense às imagens durante a adoração parece ter vindo do exterior talvez os povos do último período de Védico.
Uma outra teoria diz que o Puja era originalmente uma prática tribal, fora da sociedade Védica e que se incorporou a religião Védica, com a popularização crescente dos movimentos devocionais. Esta teoria parece ser mais plausível, embora algum elemento da influência estrangeira não pode inteiramente ser descartado.
Compreendendo a Pūjā
É certo que a tradição do Puja, com um processo dinâmico, evoluirá em mais formas e métodos simplificados no futuro . Hoje já há uma compreensão do Puja como um processo de transmissão de energia mental, emocional e espiritual que gera força interior positiva e atinge as pessoas e objetos. É a manifestação do sentido de agradecimento que brota do coração quando se aceita as coisas como elas são. Não se trata de um estado de conformismos, mas sim de uma ausência total de resistência ou rejeição, que se transformará em solo fértil para a transformação
O simples fato de agradecer e desejar coisas positivas e saudáveis gera uma atitude psico-emocional favorável ao desenvolvimento espiritual. Então podemos traduzir Puja como transmissão deste tipo de energia.
O ato de reverenciar deveria ser uma atitude constante como parte da rotina diária de nossas vidas como uma forma de agradecimento à vida. Para tanto, deveríamos estar perceptivos, atentos, envoltos por uma aura de compaixão para conosco. Essa é a grande diferença do auto estudo para a auto recriminação. Não se aplica aqui o “chorar pelo leite derramado” e sim aceitar que se derramou, aprender com a situação e realmente agradecer por esta oportunidade de aprendizado e transformação.
Como sabermos que chegamos a este estado? Uma vez um amigo querido deu-me um excelente ponto de referencia: Claudinho me disse: Imagine aquela pessoa cruel que, em determinado momento, cruza a sua vida e lhe faz um grande mal. Um mal daquele que você julga impossível perdoar. Então um dia você chega a um estado de compreensão em que entende o que deveria aprender com aquela situação e chega ao ponto de agradecer a este “inimigo” por estar “sacrificando a sua existência” para que você aprenda e se transforme. É utópico? Talvez sim, mas qual seria o agente transformador se somente agradecermos o bem quando o mal é mais marcante e é com ele que aprendemos as grandes lições da vida?
O Processo
A transmissão do Puja é semelhante ao mecanimo do eco. Ao emitirmos um som, esse encontra obstáculo, bate e retorna. A repetição do som que ouvimos é o eco. Às vezes o som é exatamente o mesmo, às vezes possui modificações tornado-se mais agradável ou não aos nossos ouvidos. Com o Puja, a emissão de energia é constante, através de nossos pensamentos, sentimentos e ações. Essas vibrações viajam pelo espaço até encontrarem um obstáculo que irá reverberá-las, voltando-as para nós mesmos. Não existe o conceito de vibrações benéficas ou maléficas, estes são apenas frutos de nossa percepção e de nossa resistência áquilo que recebemos como agradável ou não a nós.
O importante é sabemos que originalmente a vibração partir de nós mesmo. O importante, também, é sabermos que o simples fato de agradecer e desejar coisas positivas e saudáveis gera uma atitude favorável ao desenvolvimento espiritual.
Agradecer e aceitar são estados de consciência. São sensações que estão além do intelecto. Quando atinge-se o estado de aceitação o coração é invadido por um estado de contentamento e felicidade que não e abalam com os reveses das circunstâncias. Repleto em felicidade só resta deixar que extravase, como uma necessidade de se compartilhar. Puja, em essência, é a mais pura tradução destes estados.
Extraído de http://www.navrattna.com.br/blogs/merces